Entrevista #14

26 de setembro 2016

 

Henrique Mesquita

TÉCNICO DE OBRA | BOMBEIRO

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Marco de Canaveses Fire Mode

 

Lema de vida

Não deixes para amanhã aquilo que podes fazer hoje!

Nacionalidade: Portuguesa

Naturalidade: Sande, Marco de Canaveses

Idade: 23

Profissão: Técnico / Condutor de Obra

Função: Técnico de Obra / Encarregado

No Grupo Casais desde fevereiro 2015

Recorda o dia em que entrou para os bombeiros (da Associação Humanitária de Bombeiros do Marco de Canaveses) com uma alegria que pretende eternizar. Foi a 4 de fevereiro de 2011, já lá vão quase sete anos, que Henrique Mesquita, técnico de obra, decidiu abraçar esta nobre causa. Uma hora, duas, três, quatro, 14 ou 24: “Quando saímos, nunca sabemos quando – e se – vamos voltar”. A refeição, quando chega, ora quente ora fria, é feita em cima do capô do veículo e os talheres, quando faltam, nem são notados. São horas de aflição. “Mas se é assim tão mau, por que é que o fazemos? Não sei. O meu colega vai, eu também vou. A floresta está a arder, é preciso apagar. Simples, claro e imediato”, explica.

 

Desde pequeno que se lembra de pisar as brasas e admirar aqueles homens que, de capacete e farda, arriscavam tudo no combate às chamas. A vida levou-o ao encontro da construção civil, mas os bombeiros continuam a ter uma grande fatia do seu tempo… e do seu coração: “Exige muita dedicação. É preciso estar presente de corpo e alma.” Nunca se arrependeu de dividir a sua vida com os outros, mas alerta quem pondera juntar-se a uma corporação: “É preciso gostar mesmo e conseguir gerir o tempo. É um compromisso que deve ser honrado, passando por cima do medo, da incerteza e do próprio nervosismo da adrenalina.”

“Quando saímos, nunca sabemos quando – e se – vamos voltar.”

No entanto, e apesar de alocar parte do seu fim de semana, este bombeiro é quem se sente privilegiado por ter a “oportunidade de servir e ajudar os outros”. E são os incêndios e os desencarceramentos, quando correm bem, que mais o fazem sentir grato. “Por serem trabalhos mais arriscados e com mais responsabilidade, quando corre tudo bem é uma alegria enorme para toda a equipa”, corrobora. Mas nem tudo são finais felizes quando se integra uma corporação… Os incêndios, mais do que uma revolta, são uma mágoa para Henrique e para os seus colegas. “Não há grandes incentivos e os jovens acabam por se afastar. Parece que só se lembram dos bombeiros no verão. Mas, a verdade, é que precisamos de apoio o ano todo!”, lamenta. A Henrique, os elogios da comunicação social não lhe enchem o ego: “Dizem que somos heróis mas, na realidade, somos escravos sem juízo!”.

 

São alturas complicadas: o chão quente, as florestas queimadas, as casas ameaçadas e as vidas roubadas são feridas que abrem todos os verões. Mas, quando cai a chamada, não há tempo para hesitações. “Saio da viatura, penso em mim e nos meus colegas, e atuo em equipa. O receio é preciso esquecer e o trabalho é feito sincronizadamente”, afirma. Além de esconder o pânico que, por vezes, confessa sentir, este bombeiro acredita que é necessário deixar o coração de lado, perante as dificuldades alheias. “Levar os problemas para casa não é solução”, diz.

 

Henrique gosta de acompanhar as pessoas que ajuda. Saber se estão bem, se recuperam e como vivem: “Sinto-me, de certa forma, responsável”. No entanto, quando questionado que caso recorda, este técnico de obra conta-nos a história de uma cadela que caiu num buraco e aí teve os seus bebés. Ao ouvir os choros aflitos, os vizinhos chamaram os bombeiros. “Foi um salvamento diferente… e complicado! Os animais estavam com medo e fugiam quando os tentávamos apanhar. Estavam muito vulneráveis”, conta. Felizmente, tudo acabou bem e os cachorrinhos e a mãe foram resgatados e entregues a uma associação. “Há sempre um ânimo extra quando as coisas correm bem!”, congratula-se.

Quando saem do quartel não sabem o que vão encontrar. Mesmo sem saber se voltam, eles vão. Mesmo a saber que correm riscos, os bombeiros não pensam duas vezes. As vidas em perigo são o seu chamamento e, fazer o bem, é a recompensa que procuram. O pagamento, esse, é feito com “os sorrisos e a saúde daqueles que são socorridos”.

 

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