Entrevista #4

23 de novembro 2015

 

David Cardoso

ADMINISTRATIVO  |  VOLUNTÁRIO

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You may say

he’s a Dreamer

 

Nas grandes cidades a atenção centra-se nas luzes ofuscantes, nas enormes lojas e nos apetitosos restaurantes. O ritmo agitado não dá espaço para mais nada. Os PSA, ou pessoas sem abrigo, tornam-se invisíveis. A partir do momento que, inevitavelmente, se estende a mão a um, milhares surgem aos nossos olhos. David chama-lhe o “efeito real”, a mudança na vida das pessoas.

Cada uma, encerra em si uma história, uma alma.

Nacionalidade: Portuguesa

Naturalidade: Portugal

Idade: 28

Profissão: Administrativo

Função: Serviços Externos - Del. Lisboa

Foi há oito anos que David Cardoso, administrativo do Grupo Casais, em Lisboa, se juntou à Comunidade Vida e Paz. Primeiro como voluntário nas Festas de Natal e, mais recentemente, como elemento nas equipas de rua. “É muito gratificante conseguir ver, imediatamente, os frutos da ação. Estas são pessoas que vivem isoladas todo o ano e, nas Festas de Natal, há uma luz, um calor humano, um amor que se sente... É diferente”, explica.

 

De duas em duas semanas, mais de 50 equipas saem à rua. Consigo levam uma sandes, um bolo e um coração carregado de fé e esperança. O objetivo: mais do que fornecer uma refeição, é encorajar aqueles que necessitam, a pedirem ajuda: “Muitas destas pessoas têm problemas com álcool, drogas ou outros vícios. A comida que damos não é o fim, mas sim o meio para conseguirmos estabelecer uma comunicação”.

 

Depois de quebrar o gelo, tudo fica mais simples. A confiança começa a nascer, as conversas ficam mais longas e o medo, esse é quase esquecido. É um processo moroso, com alguns avanços e retrocessos.

O mais importante, confessa David, é não “afundar na negatividade”.

 

“É muito fácil ceder, entrar na espiral do derrotismo. A nossa função como voluntários é não deixar isso acontecer. É fazê-los ver a outra face do Mundo. Para nós, é quase um teste psicológico”.

“Quando tiramos o dinheiro da equação, tudo fica mais fácil. Trabalhamos melhor e somos mais felizes. Vivemos numa sociedade e dependemos uns dos outros. Não é justo eu ser feliz e não ajudar quem nada pode fazer por si próprio.”

As Quintas da Comunidade Vida e Paz, para onde estes sem abrigo são reencaminhados, funcionam como uma espécie de incubadora, onde as pessoas podem recomeçar uma vida e reintegrar na sociedade. Esse é o verdadeiro propósito.

A metamorfose demora, aproximadamente, seis meses. Os vícios são tratados e são estabelecidas regras e horários. Desenvolvem ofícios, cultivam legumes e fruta, socializam e reaprendem a viver.

 

“Para nós é difícil imaginar a complexidade deste processo. Mas, para um sem abrigo, que vive na rua há anos, sem responsabilidade, sem nada nem ninguém, a adaptação a um sistema é uma verdadeira vitória”, esclarece.

Com o corpo e a alma carregados de dedicação, David já conseguiu que cerca de 20 pessoas dessem o primeiro passo para mudar as suas vidas.

 

Em oito anos de voluntariado, várias são as histórias contadas por David. Muitas vidas passam pelas mãos dos mais de 600 voluntários que se dedicam a restituir sorrisos a estas pessoas. Errar, cair e levantar é o percurso. Crescer e voltar a ser feliz é o objetivo. “Lembro-me de um episódio que me marcou especialmente, numa das primeiras Festas de Natal em que participei”, recorda. “Era  uma senhora com mais de 60 anos, que vivia na rua. Nos jantares de Natal é disponibilizada roupa doada, e cada sem abrigo pode levar até três peças. Então esta senhora começou a chorar, emocionada por ter a possibilidade de escolher. Foi este o momento que me fez acreditar neste projeto”, confessa.

 

Se para uns o trabalho comunitário é a renda que se paga por viver neste mundo, para David, o voluntariado é um direito e um dever de todos: “Quando tiramos o dinheiro da equação, tudo fica mais fácil. Trabalhamos melhor e somos mais felizes. Vivemos numa sociedade e dependemos uns dos outros. Não é justo eu ser feliz e não ajudar quem nada pode fazer por si próprio.” Menos materialista, mais humano, menos egoísta e mais grato. As mudanças que o voluntariado na Comunidade Vida e Paz trouxeram são inúmeras.

 

Para David, “transformar alguém, transforma a nossa própria vida”. Para os voluntários são cinco ou dez minutos, para estas pessoas, é o sentido do dia, da semana, da vida.

Mais informações sobre o projeto que o David Cardoso apoia:

 

Comunidade Vida e Paz

www.cvidaepaz.pt

facebook.com/Comunidade.Vida.e.Paz

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